Quando estava em férias, chegou-me às mãos este pequeno livro:
São mais de duas dezenas de poemas, feito por poetas populares, que nos mostram através de simples palavras, as suas vivências, os seus pontos de vista, pensamentos e sentimentos, sobre inúmeras temáticas.
Hoje, destaco este poema de Manuel José Rafael, natural de Odemira, 75 anos, agricultor, 4ª classe.
Eu pergunto à democracia
Por onde é que tem andado
Eu olho mas não a vejo
E é mistério em todo o lado
Eu ouço falar que há
Mas confesso que não a vi
Se existe não esteve aqui
Ainda não passou por cá
Mas se existe talvez vá
Visitar quem a via
Ao lado da burguesia
A onde ela se sente bem
E por onde anda que não vem
Pergunto à democracia
Pergunto mas não responde
Talvez não esteja interessada
Ela anda encapuçada
Por aí não sei aonde
Talvez ao lado de um conde
Ou alguém mais graduado
O povo sacrificado
Reclama mas não tem
E se não aparece a ninguém
Por onde é que tem andado
Talvez que ela não exista
Seu nome seja uma farsa
Já que ela aqui não passa
E por tantos nunca foi vista
Foi talvez algum artista
Pela força do desejo
Ou talvez por ensejo
Nas voltas que a vida dá
Que disse que a viu por cá
Mas eu olho e não a vejo
Dela já ouvi falar
Mas confesso que não sei
Se existe ninguém a vê
Nunca se deixa mostrar
O povo fica a pensar
Nas promessas do passado
Por ela foi enganado
Por ser tão apregoada
Mas no fundo não deu nada
E é mistério em todo o lado
*
Temos que ouvir a voz do povo
e ir à procura da democracia.
e ir à procura da democracia.
Beijinhos
Fê