“Um homem
desejoso de trabalhar e que não consegue encontrar trabalho, talvez
seja o espectáculo mais triste que a desigualdade ostenta ao cimo da
terra.”
―Thomas Carlyle
Todos os dias iguais, todas as noites... sem nada.
Tudo lhe servia de desculpa para não sair de casa, passava o tempo sentada no sofá a olhar para a televisão. Olhava, mas não via nem ouvia uma única notícia ou filme, como se o ecrã estivesse negro, e mesmo quando esforçava os olhos, deparava-se com pessoas a abrir e a fechar a boca, até as imagens se desfocarem e se transformarem num imenso borrão.
A casa estava às escuras, os dias confundiam-se com as noites, a tristeza entrava pela porta , pelas janelas, envolvia os lençóis , as almofadas na sala e a roupa que trazia vestida.
O telefone não tocava, só dias de silêncio total.
No princípio até houvera algumas vozes amigas a darem-lhe força, a mostrarem-lhe que a compreendiam, ser despedida assim, sem aviso, está tudo louco !
Mas isso fora no início, agora estava esquecida, perdida... sem nada!
"Vais ver que arranjas trabalho num piscar de olhos." diziam-lhe.
Mas com o tempo, foram-se afastando como se tivesse uma doença contagiosa, e afinal, quem a poderia querer como companhia?
Envelhecera de repente, as palavras gastara-as nas entrevistas para hipotéticos empregos, nos telefonemas em que tentava explicar a sua mais-valia...mas não valia nada, não tinha nada !
Era apenas mais um número nas estatísticas do desemprego, uma mulher, sozinha, sem razão alguma para abrir a porta da rua e sair.
Uma mulher sem ninguém a esperá-la do lado de lá do passeio.
Uma mulher sem nada!
BOM FIM DE SEMANA !