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ilustração de Isabella Ahmadzadeh |
No Outono os dias vão ficando mais pequenos, as folhas caiem formando um manto castanho, o vento sopra com mais intensidade e o frio espalha-se entre nós.
E quanto mais frio está mais somos convidados a
comprar as castanhas quentinhas que sorriem para nós com a sua boca
aberta num pedido de que as provemos.
Recordações de quando era pequena, pela mão dos meus pais, aguardava impaciente, a minha vez de adquirir um pacote de castanhas.
Recordações de quando era pequena, pela mão dos meus pais, aguardava impaciente, a minha vez de adquirir um pacote de castanhas.
Lembranças do tempo da escola em que corríamos para ver quem conseguia
chegar primeiro e ter as castanhas mais quentinhas. Lembro-me daquele grupo de
crianças à nossa volta, olhar de súplica de quem não podia comprar
castanhas. E havia sempre partilha, uma a uma íamos distribuindo as
nossas castanhas. O sorriso agradecido das crianças era suficiente para
nos compensar.
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Lisboa 1966 |
Na Praça da Figueira,
ou no Jardim da Estrela,
num fogareiro aceso é que ele arde.
Ao canto do Outono,à esquina do Inverno,
o homem das castanhas é eterno.
Não tem eira nem beira, nem guarida,
e apregoa como um desafio.
É um cartucho pardo a sua vida,
e, se não mata a fome, mata o frio.
Um carro que se empurra,
um chapéu esburacado,
no peito uma castanha que não arde.
Tem a chuva nos olhos e tem o ar cansado
o homem que apregoa ao fim da tarde.
Ao pé dum candeeiro acaba o dia,
voz rouca com o travo da pobreza.
Apregoa pedaços de alegria,
e à noite vai dormir com a tristeza.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais calor p'ra casa.
A mágoa que transporta a miséria ambulante,
passeia na cidade o dia inteiro.
É como se empurrasse o Outono diante;
é como se empurrasse o nevoeiro.
Quem sabe a desventura do seu fado?
Quem olha para o homem das castanhas?
Nunca ninguém pensou que ali ao lado
ardem no fogareiro dores tamanhas.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais amor p'ra casa.
ou no Jardim da Estrela,
num fogareiro aceso é que ele arde.
Ao canto do Outono,à esquina do Inverno,
o homem das castanhas é eterno.
Não tem eira nem beira, nem guarida,
e apregoa como um desafio.
É um cartucho pardo a sua vida,
e, se não mata a fome, mata o frio.
Um carro que se empurra,
um chapéu esburacado,
no peito uma castanha que não arde.
Tem a chuva nos olhos e tem o ar cansado
o homem que apregoa ao fim da tarde.
Ao pé dum candeeiro acaba o dia,
voz rouca com o travo da pobreza.
Apregoa pedaços de alegria,
e à noite vai dormir com a tristeza.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais calor p'ra casa.
A mágoa que transporta a miséria ambulante,
passeia na cidade o dia inteiro.
É como se empurrasse o Outono diante;
é como se empurrasse o nevoeiro.
Quem sabe a desventura do seu fado?
Quem olha para o homem das castanhas?
Nunca ninguém pensou que ali ao lado
ardem no fogareiro dores tamanhas.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais amor p'ra casa.
Ary dos Santos
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Lisboa, Praça D. Pedro V, 1907 |
fotos retiradas daqui
~~ * ~~
As castanhas possuem um delicioso sabor, consistentes
como uma batata e são perfeitas para os meses mais frios, feriados ou
como petisco para um dia qualquer. Embora tostar ou assar as
castanhas sejam os métodos mais comuns, também podem cozê-las, assá-las no forno ou
prepará-las no micro-ondas. Vejam aqui algumas dicas muito simples e deliciosas.