O meu obrigada a
TODOS que aceitaram este
meu desafio. Melhor do que as minhas palavras, o comentário da
Mariazita diz tudo. Bem-hajam! .
" ...de realçar que a maioria, se não a totalidade, aposta na recuperação da
jovem, o que significa, na minha óptica, forçosamente de "deformação
profissional" :))) (a psicologia) que o ser humano tem sempre fé em si
mesmo, ainda que perante as maiores adversidades. Seja em que
circunstâncias for há sempre a luzinha ao fundo do túnel...
Aquele corpo tão falsamente provocante que caminhava para o abismo, era o
seu, e ela por mais que tentasse não conseguia aliená-lo.
Detestara-o naquela noite e em todas as outras noites em que o usava.
Queria que ele não lhe pertencesse, sentia a maldição que pesava sobre
si e desejava ser uma pessoa normal, que se entrega, que recebe, que
aceita e nada receia.
Só via falência na sua vida. Não existia nenhuma razão no mundo que a pudesse impedir.
A quem poderia interessar que ela vivesse, que trabalhasse, que amasse.
Para quê? Para quem?
A desculpa da euforia permanente produzida pelo álcool era mais
razoável, pois conseguia afastar a falta do amor que não conheceu, dos
beijos que não deu, dos livros que não leu e da vida que não viveu.
Mas hoje estava sóbria!
Eram precisamente seis horas e dezoito minutos quando ela decidiu o seu destino.
Foi, então, que ouviu um choro...
Depois de muito procurar avistou a caminha portátil, com a bebé abandonada.
Fez tudo para a merecer, mudou-se par uma aldeia-lar e conseguiu realizar o seu sonho.
Arrumou o passado dentro de um armário e deitou a chave fora.
Nunca mais andou sozinha, nem deprimida.
Saiu dali, naquele exato ,momento, bem registrado na sua mente, focada no que iria fazer dali em diante.
Caminhou,
voltando para quem deixara pra trás e que a deixava tão amargurada...
Para diante da delegacia , faz a denúncia. Sofrera calada, esquecera de
si mesma, dera-se aquele maldito homem... Agora, seria questão de
tempo... A polícia o encontraria lá no endereço, ainda bêbado,
malcheiroso e certamente, com a faca com a qual a perseguira...
Sua vida seria bem melhor a partir de agora. Dera-se uma chance, recomeçaria!
Antes de recomeçar pegou do chão um pedaço de vidro que ainda restava de
uma garrafa quebrada da noite anterior ,reflectindo nela a sua própria
imagem desgastada pelas maleitas da vida ,por momentos quebrou-se tudo
,as lágrimas escorriam ,dilaceravam o seu coração pela nova oportunidade
que a vida lhe estava a dar .
-Decidiu se impor perante à vida, disse não ao álcool e a qualquer empecilho à vida plena e livre...
Assim decidida procurou o sítio propício e para lá se dirigiu.
Um
homem de olhar indefinido e passo decidido, barrou-lhe o caminho. Não
lhe perguntou a onde ia, fez-lhe uma pergunta inesperada."Há quanto
tempo morreste?" e sem esperar resposta o homem continuou "Aposto que
decidiste morrer há muito, talvez quando eras muito nova... acontece
quando nos consideramos mortos, vamos morrendo, morrendo, ao longo do
tempo..."
Surpreendida já não tanto por o desconhecido lhe ter
interrompido o caminho mas por aquelas palavras lhe terem dado uma visão
diferente ao seu percurso de vida. Interrogou-se se não teria alguma
vez desistido antes de começar.
Sem pensar que o fazia, sentou-se
numa pedra que por ali havia. O homem acompanhou-a e sentou-se noutra. E
por ali ficaram a conversar até a noite chegar. Depois (e porque há
sempre um depois) sentiu-se ressuscitar.
Caminhou, suave mas decididamente, passo após passo, segura pelas suas
certezas mas saboreando cada um deles, fechou os olhos e continuou a
direito esperando a cada momento sentir que o chão acabava, sentiu a
brisa que ao de leve lhe afagou os cabelos, o som que produzia no
restolhar das folhas de árvores e arbustos próximos e sentiu-se, de
repente, inundada de luz e calor conforme o sol descobriu das nuvens
enquanto se punha à sua freno no horizonte distante.
Abriu os olhos e contemplou a luz, cor-de-laranja forte que transformava as nuvens em
farripas de algodão cor-de-rosa no céu, pensou no Amor que ainda não
tinha conhecido, nos beijos que não tinha dado, nos livros que lhe
faltava ler, na vida que faltava viver…
…e parou, a um passo da
falésia, com o abismo a abrir-se à sua frente, não mais como um convite,
mas como uma demonstração de beleza!
Não há nenhum vazio que não possa ser preenchido, se soubermos com o que o preencher!
Virou as costas e caminhou com renovada certeza! Começaria pêlos livros…
…o resto a própria vida traria…
Um destino que ela mesmo procurou através da sombra dos momentos vividos pela bebida,mas ao deparar-se
com
os penhascos,pensou em não atirar-se ao sono profundo,relevou e voltou
ao caminho de casa para um novo recomeço de vida,quem sabe
àquele amor que não conhecia,poderia aparecer e deixá-la saborear os beijos que tanto desejou.
E assim o seu destino já estava decidido para voltar a ser feliz.
Não pensou duas vezes, subiu nos saltos e decidiu deixar tudo para trás,
caminhando em direcção de um novo porvir. Casou-se com alguém que a
beija com paixão e lhe traz livros e flores!
Minhas Pinturas
Resolveu rever todos os momentos que perdeu com a bebida e com a auto
piedade, virou as costas para o abismo que antes a convidava como um fim
mais rápido, e começou ali mesmo a traçar um plano de vida, sem a
bengala do álcool e com toda a coragem para lutar.
Completamente desiludida da vida, resolve mesmo avançar para o abismo à
sua frente, no alto daquela rocha, no cimo da montanha e, sem mais,
avança um simples passo e deixa-se precipitar naquele vazio, à sua
frente, sentindo o seu corpo sem o menor apoio no espaço, completamente
abandonado !!!
Talvez que essa estranha sensação de se sentir no
vazio e sem respiração, a faz acordar repentinamente desse terrível
pesadelo e voltar à realidade, ainda ofegante e bafejante, com o coração
a bater fortemente, a sentir-se respirar e bem suportada pelo seguro
colchão da sua cama !...
Eram precisamente seis horas e dezoito minutos... e ela foi até à beira do precipício... Olhou para baixo...
A
sua vida tinha batido no fundo... e quando se está no fundo... é quando
se tem a mais bela e realística percepção de tudo, o que está à nossa
volta... Quando se chega ao fundo... o única caminho... é pensar em
subir...
Hoje estava sóbria... E ali prometeu a si mesma... passaria o
resto da vida, procurando motivos para contrariar o que o destino, lhe
parecia ter reservado, quando a conduziu até ali... o destino faz-se em
cada dia... desde que estejamos vivos... nada está pré-destinado...
Ela
decidiu contrariar o que o destino tinha em mente para ela... e decidiu
procurar outro destino... onde os seus sonhos tivessem lugar...
Virou costas ao precipício...
Há
medida que saia dali... sentia-se mais leve... e mais perto do céu...
estava em paz. Perdoou-se a si mesma. Sentiu-se pronta para a vida...
como nunca tinha estado, até então...
Naquele preciso momento, seis horas e dezoito minutos, quando procurava
de dentro da bolsa, a chave de casa, ansiosa para se estender na cama,
após um percurso solitário, de uma noite inteira vagueando sem destino,
toda a sua vida lhe passou pela mente, como se estivesse a assistir a um
filme.
Sentou-se num degrau das escadas, olhou para o céu. Viu um
clarão de luz intensa e, maravilhada, assistiu ao primeiro nascer do Sol
em toda a sua vida.
Não! Os beijos que nunca lhe deram, o amor que
nunca lhe dedicaram, os livros que não leu, enfim, a vida que nunca
teve…Nada, nada mesmo, se poderia comparar à dádiva de estar viva e ver
nascer um novo dia…
Voltou a descer as escadas e caminhou serena e
confiante pelo passeio da rua, deserto àquela hora matinal. Havia
despertado dentro de si a certeza de que o mais importante na vida, não é
aquilo que se recebe e sim o que nos damos a nós mesmos.
Dali em
diante iria olhar-se com mais carinho, gostar mais de si…Abandonar o
cigarro, o álcool, os falsos amigos…Quem sabe aquela promessa de emprego
na Livraria do Shoping não se concretizaria e os livros que nunca leu,
ela, finalmente os leria? Ergueu a cabeça, sorriu e trauteando aquela
velha canção aprendida na sua meninice, ensaiou uns passos de dança e
seguiu em direcção ao seu novo Destino…
talvez um pássaro azul a salve.
ou uma lágrima de emoção.
um poema sem dono.
ou uma memória
ou a brisa a lamber o rosto.
nunca, nada está perdido
definitivamente
Decidiu que ia morrer.
Tomada a decisão, arrepiava-a poder também
falhar a meio e foi por isso que decidiu atirar-se da ponte, que ficava
perto. Ainda estava escuro, mas não tardaria que o sol nascesse. Um
estranho silêncio antecipava a madrugada. Estacionou o carro num parque
perto e começou a caminhar até ao meio da ponte.
Sentia como nunca o ar frio no rosto, como se lhe lavasse a cara e confirmasse que estava certa.
Foi
então que o viu. Mesmo no local que ela tinha escolhido, um homem de
costas para ela, debruçava-se sobre a protecção, ali onde o rio era mais
fundo.
Ele ouviu os seus passos e despertou do seu torpor. Virou-se
para ela. Era um homem de meia idade, com cicatrizes de um lado do rosto
que ao invés de o desfigurarem, realçavam o azul intenso dos seus olhos
e a atraíram.
Subitamente, sem saber porquê, quis salvá-lo.
Lembrou-se
das muitas vezes que tinha conseguido reinventar-se, apesar de todos os
revezes, nunca antes até àquela hora, tinha pensado em desistir.
Começou
a falar com ele. Disse-lhe que tinha frio e passou logo depois para os
todos argumentos que conseguia lembrar-se para que ele não se atirasse,
Ele era muito mais forte que ela. Se o resolvesse fazer, não
conseguiria impedi-lo.
Percorreu todos os lugares comuns na procura
da ideia salvadora, que não conseguia encontrar. Ele só olhava para ela,
sem lhe responder, sem que nada no seu rosto ou olhar lhe dissessem que
estava sequer a escutá-la.
Até que ele lhe disse: “está mesmo frio. Vamos mas é tomar o pequeno-almoço”.
E foram. Os dois.
Algum tempo mais tarde, quando já começava a conhecê-lo, a entregar-se,
a receber e a aceitar, soube que ele não tinha ido ali para se matar,
mas que apenas gostava de olhar para o rio.
Hoje estava sóbria.
Começou um lindo trabalho em uma comunidade local.
Dava palestras e auxiliou a muitos pacientes que, assim como ela,lutavam contra a terrível doença do alcoolismo.
Voltou para trás, abriu vagarosamente a porta de casa, subiu os degraus
da escada que a conduziram ao quarto...abriu o roupeiro, deu uma
olhadela pelas roupas há muito abandonadas e que lhe lembraram momentos
de brilho em salões onde tinha sido a estrela, onde rodopiava ao som dos
acordes da orquestra. Ele pegava-lhe na mão e fazia com ela deslizasse,
qual pena, pelo salão , onde todos tinham os olhos postos nela.
Hoje não o tinha a ele, mas sentiu pela primeira vez de há muitos anos a esta parte, que tinha chegado a hora de recomeçar.
Sozinha? Por que não?
Sentiu que ela era o centro do seu mundo e que nada nem ninguém daí para a frente a impediria de ser feliz.
Vestiu
aquele vestido vermelho que adorava, borrifou umas gotas de perfume
pelo corpo, colocou a música do Chet Baker e dançou até de madrugada,
caindo exausta na cama.
Mal os primeiros raios de sol raiaram, abriu os olhos e percebeu que uma nova mulher tinha nascido!
Contemplou o céu e toda a beleza com que a mãe natureza a presenteia e,
chegou à conclusão que vale a pena viver simplesmente por ela, é então
que ela vai perceber que tudo quanto pensava e sentia não fazia sentido.
Pegou no espelho que tinha na carteira e olhou para a imagem que ele reflectia e disse:
-
Joana nunca mais vais ver este rosto deprimido porque, a partir de
hoje, vai nascer outra mulher, completamente renovada. Interessa-me que
sejas feliz e só isso é razão suficiente para que olhes em frente e
caminhes decidida.
*
a ouvir - You Raise Me Up - Instrumental with lyrics