Meus Amigo(a)s, em primeiro lugar quero vos agradecer pela preciosa colaboração que deram a este meu "Desafio ao Domingo ".
Este tema daria um debate muito interessante, mas não tenho neste meu humilde espaço essa pretensão, até porque é um assunto demasiado sério e pessoal.
A maioria dos comentários foi a favor da gravidez, poucos se abstiveram e quem comentou a favor da interrupção apresentou também argumentos bem fundamentados.
Aproveito para publicar o final que lhe dei quando fiz este pequeno texto.
O meu bem-haja a todos!
~~*~~
DECISÃO
"Bateu ao de leve na porta de um edifício antigo numa rua discreta da cidade.
Uma
mulher sem idade definida abriu-lhe a porta perguntando-lhe o nome,
mandou-a entrar e com um gesto indicou-lhe uma cadeira num corredor
comprido e escuro.
Sentiu a presença de outras mulheres mas não as olhou, nem lhes falou.
Enquanto
esperava pela "sua vez" pensava se estava ou não a tomar a decisão
certa. Era jovem, solteira, com o curso ainda a meio e tantos sonhos por
cumprir.
Pensava
também na mãe, que nem imaginava que ela estava a passar por tudo
aquilo. No namorado não pensava e no filho não queria pensar.
Finalmente chamaram-na.
Entrou
num quarto quase despido de mobília onde estava uma mulher vestida de
branco, uma maca, uma mesa com uns quantos instrumentos, que ela
preferiu não ver, uma bacia e uma cadeira.
Hesitou por um momento e tomou a decisão de...
...
não ir em frente com tamanha culpa que lhe iria atormentar o coração
para o resto da vida, sua expressão no seu rosto justificava tal
acto, seu coração irradiava uma paz indefinível, que a fez seguir em
frente enfrentado cada adversidade, pois sabia que a partir desse
momento por mais difícil que fosse sabia que dentro do seu ventre nascia
um ser que já era muito amado .
Sim
ela esperava um bebê, e estava ali decidida em fazer um aborto, pois sua
situação não era a das melhores e não poderia ter essa criança. Mas...a
consciência foi mais forte e arrependida sai sem deixar que alguém
pudesse vê-la e começa a pensar em revelar a sua mãe dessa gravidez e
pedir ajuda a ela psicologicamente para poder levar até o término do
nascimento,e ajudá-la no que fosse preciso.
Sabia que sua mãe não negaria esse pedido e aí...
... sair daquele lugar e enfrentar com coragem e determinação o que iria fazer de seguida!
... seguir em frente. Despiu-se
e quando se preparava para se deitar na maca, sentiu um arrepio gelado
na coluna. Era como se alguém lhe passasse uma pedra de gelo do pescoço
para baixo. Foi como se acordasse dum transe. De repente tudo lhe
pareceu demasiado sórdido e o seu único desejo foi fugir dali. Vestiu-se
atabalhoadamente, os olhos rasos de água, o coração apertado. Todos os
seus argumentos anteriores que a tinham levado até ali,lhe pareciam
egoístas e sem razão de ser.
Na rua, respirou fundo. Estranhamente
sentia-se mais leve, mais ligeira, como se tivesse feito as pazes com a
vida. Passou a mão pelo ventre, numa leve carícia e murmurou:
"Perdoa-me filho"
... pedir desculpa à senhora da bata branca, pelo incómodo e pela desistência do que haviam previamente combinado.
Saiu
para a rua e respirou fundo. Aquele ser que sentia já a crescer no seu
ventre, fruto de um amor (in)consequente, iria nascer e ver a luz do dia.
Não poderia carregar com o peso desse crime, pelo resto da sua vida.
Nem ela nem ninguém, tal sorte merecia.
Era jovem, o curso haveria de ser terminado e, como havia lido algures, já nem se lembrava onde:
"Há sempre lugar para mais um"...
... não concretizar o que pensara, afinal, é uma vida que teria o
direito de nascer, que seria um crime impedir, apesar de ter sofrido
aquele estupro. Nem seu namorado, nem sua família sabiam. Como contar?
Acreditariam? E seu namorado?
Mas nada pesaria tanto quanto tirar a
vida do 'Ser' que acolhia. Decidiu-se pela vida, pela verdade, pelo
filho que amaria acima de tudo.
Saiu do quarto não mais apavorada, mas segura de seu bravo ato, não importando suas consequências.
...não interromper a gravidez o ter o filho que gerava no ventre.
Resolveu assumir e proteger o filho de tudo e de todos,como uma leoa, custasse o que custasse...
... sair dali, e entregar-se ao seu destino, foi um erro que a
levou aquela situação e um erro não se conserta com outro. Pensou nas
palavras de sua mãe,"nada neste mundo é de graça, o maior prazer, a
maior alegria, a comida mais gostosa, tudo tem um preço, ou pagas na
hora ou se prepare para os juros, o melhor é procurar não errar, se
errou conserte e acerte". Saiu da sala e hoje tem uma linda menina para
alegrar seus dias...
...
assumir a sua maternidade, mesmo com as dificuldades e contrariedades
que isso lhe traria no imediato; a certeza que o SEU bebé lhe iria dar
muita felicidade. Pediu desculpas e saiu para a Vida.
... a
medo deitou-se na marquesa, o coração parecia querer saltar-lhe do
peito, respirava ofegante, passou suavemente as mãos pela barriga e
imaginou a alegria que seria aquele ser pequenino um dia chamar-lhe mãe,
ao mesmo tempo a lucidez dizia-lhe que não iria ter coragem para contar
aos pais, ao namorado o que se passava e naquele momento não tinha
condições financeiras para criar aquele filho.
De repente o coração falou mais alto que a razão. Deu um pulo, vestiu-se à pressa e partiu.
Já cá fora sentiu uma brisa leve afagar-lhe o rosto e soube naquele momento que tinha tomado a melhor atitude.
Pensou que o que naquela altura tudo parecia trágico, mas a vida dá muitas voltas e acreditou que os milagres acontecem.
... retroceder, trêmula, os passos. Saiu aos prantos em direção a um lugar
para ermo, silencioso, no qual pudesse estar consigo mesma, pedindo
força e coragem para tocar a sua vida com mais determinação para cuidar
do filho que estava ganhando peso no seu útero. Antes, passou por uma
delegacia para denunciar a clínica clandestina.
...
não prosseguir após fazer uma viagem rápidas por tudo que já havia
passado na vida.Decidiu contar tudo para seus pais e assumiria
independente do namorado. Naquele instante era ela e o mundo,
despediu-se e bateu a porta atrás de si.
Que
decisão tomar? De repente, chegado o grande momento, as certezas
ruíram, qual edifício sem sustentação. Que fazia ali? Que estava a
fazer? O peso da decisão era demasiado, as certezas eram nada. De
repente, como que querendo afastar para lá de si toda a trama, saiu do
quarto a correr, sem saber para onde. Por dentro dos escombros das
ideias feitas, apenas intuía, isso sim, que qualquer decisão de vida não
podia ser decidida num qualquer quarto obscuro.
Voltou
a pensar na mãe. Uma enorme vertigem percorreu-lhe o corpo. Em seus
olhos começou a nascer um rio onde se sentiu tão náufraga, tão órfã, tão
solitária que esqueceu os pensamentos perversos. Saiu daquele lugar
vagarosamente com a certeza de ter voltado a nascer. Nunca mais seria a
mesma pessoa...
Sabia
que não poderia sobrecarregar os pais... que tinham ainda outros filhos
menores a seu cargo... lutando com imensas dificuldades diárias, e
recorrendo a vários empregos incertos... e que não poderia contar com
mais ninguém, senão com ela mesma...
Poderia dar vida ao seu filho... mas certamente não lhe poderia dar qualidade de vida...
E a vida, é isto!... É feita de escolhas... e de saber conviver no dia a dia, com elas...
Todas
as acções têm consequências... e ela estaria, ali naquele lugar... que
jamais esqueceria... a aprender, da forma mais dura, o quanto a vida é
muitas vezes injusta e sem contemplações... simplesmente... uns têm bons
suportes familiares, que têm a capacidade de ampararem alguns dos seus
membros, em situações de vida, mais aflitivas... outros não!... Tão
simples, quanto isto!...
Respirou fundo!... A sua decisão... a vida, e as suas circunstâncias, haviam tomado por ela...
...parar!
Os sentimentos revolviam-lhe as entranhas, enchiam-na de pavor!
E se...?
Num impulso, pediu desculpa e saiu enquanto as lágrimas lhe corriam pelo rosto. A decisão ultima, sabia, teria de ser sua...
...mas o era inteiramente!
Ainda havia algum tempo...
.. interromper a gravidez acidental e não desejada!
Não tenho o direito de criticar quem se sujeita a um aborto, como em tudo na vida, nem sempre se pode decidir "por nós" aquilo que a vida nos"dita".
Eu queria muito ter filhos, não os tive, há mulheres que ficam grávidas e não podem deixar avançar a gravidez, mas pelo que me têm contado quem o fez isso lhes provoca um grande sofrimento que se mantém ao longo da vida.
Nem preciso de tentar dar uma continuidade quando todos os que já por aqui passaram disseram o que eu diria! :)
Mas isto é "romance"... é ficção... é fácil escolher a VIDA!
A todas elas um forte abraço!
Lembra-se
que lhe colocaram uma espécie de máscara. Lembra-se de ouvir um som,
como se fosse uma torneira a pingar. Lembra-se do pavor que sentiu.
Mais nada!
Vestiu-se. Saiu sem olhar para trás. Jurou a si própria que aquela cena nunca mais se repetiria.
Não ficou estéril. Não morreu. Mas nunca esqueceu!